O gin deixou de ser uma bebida obsoleta, guardada no fundo da garrafeira para o tio-avô que só nos visita no Natal, para estar sob o holofote da popularidade e da demanda em bares, discotecas, e até mesmo na nossa sala de jantar. É uma das eleitas pelos portugueses como ideal para beber à beira da piscina, como mote para um momento de descontração ou aperitivo de um jantar entre amigos, havendo consenso entre os fãs sobre a sua versatilidade. No entanto, surgem rumores de que poderá interferir negativamente com as funções cerebrais. O Delas.pt foi investigar: afinal, o gin é ou não nocivo para a saúde?
Segundo a opinião de José Manuel Ferro, Professor de Neurologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, não há qualquer motivo para preocupação. “Beber uma quantidade moderada de uma bebida destilada, mais concretamente gin, que normalmente se bebe diluído em água tónica e ao qual se acrescenta gelo, não é prejudicial. Beber gin é muito diferente de, por exemplo, beber bagaço ou whisky, que geralmente se bebem quase puros e cuja absorção pelo organismo é muito mais rápida, pelo elevado nível de álcool. Sendo que o gin é diluído, se comparado com outras bebidas destiladas, de alguma maneira torna-se preferível. Para mais, se for tomado durante a refeição, a absorção é ainda mais lenta. Não há nada específico, nem de bom nem de mau, provado em relação a esta bebida quando comparada com outras – quando bebida com moderação, claro”, assegura o professor.
Bruno Seabra, enólogo da empresa Caves da Montanha, situada em Anadia e proprietária do mais recente gin português, o Friday Chic Gin, confirma esta ideia e enumera algumas das razões que podem ter tornado esta bebida tão popular. “O gin, de uma forma geral, é uma bebida fresca e leve devido à diluição do álcool na água tónica. O ritual de preparação, as variações que pode ter consoante a arte do preparador, os diferentes momentos de consumo a que se pode adaptar e o estímulo ao apuramento do paladar que as diferentes receitas trazem ajudam muito ao sucesso do gin, que atrai consumidores de todas as idades.” O especialista enumera os principais componentes do gin como sendo o “zimbro, cardamomo, flor de laranjeira, pétalas de rosa e a folha de videira da casa Baga, caraterística da nossa região”. E o que oferece o Friday Chic Gin de novo ao consumidor? “A Caves da Montanha tem um know how de décadas na produção de gins e destilados e sentiu a necessidade de ter um produto de valor acrescentado, que tivesse consumo em todo o mundo, sem estar ligado à comunidade portuguesa. Este é um gin eclético que agrada a quase toda a gente sem perder a sua identidade, não esquecendo a sua origem, mas não fazendo disso o seu principal trunfo. Criámos um produto com um líquido, nome e imagem internacionais, como provam as medalhas: a de design conseguida em Barcelona, e a de qualidade em Londres.”
“Beba com moderação”
Apesar da ausência de malefícios comprovados, José Manuel Ferro adverte para os perigos do consumo excessivo de bebidas alcoólicas no geral. “Em quantidades elevadas, ou seja, mais do que três unidades diárias, afetam o fígado, mas os efeitos sobre o cérebro normalmente acontecem com quantidades maiores – acima de cinco unidades por dia (considera-se uma unidade um copo de qualquer bebida, já que os copos variam no seu tamanho inversamente ao grau alcoólico) – sobretudo se o álcool não for acompanhado de uma boa nutrição. Quando bebemos demais, um dos primeiros efeitos é o desequilíbrio, causado pelo efeito tóxico do álcool sobre o cerebelo. E depois temos perda da capacidade de «gravar» o que se passa à nossa volta.” O professor de Neurologia considera que, neste aspeto, assistimos nas últimas décadas a um fenómeno de apropriação cultural dos países do norte da Europa pelos do sul.
“Na minha geração e na dos meus pais as pessoas bebiam álcool à refeição, de forma moderada. E agora há muita gente que não bebe nada durante toda a semana e ao fim de semana ingere uma brutalidade de álcool. A probabilidade de blackout ou intoxicação aguda é muito maior nestas circunstâncias embora, normalmente, a quantidade total de álcool ingerida até seja menor.”
O mais importante a ter em mente, segundo José Manuel Ferro, é mesmo a famosa mensagem dos cartazes de prevenção rodoviária: “Seja responsável, beba com moderação”. E finaliza: “Entre beber um copo de gin ou beber dois copos de vinho não há grande diferença. Mas o juízo é fundamental.”
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